Charles Chaplin

Hoje acordei com vontade de rever os discursos de Chaplin! Divido com vocês essa alegria. Beijos, Sandra

Smile(Charles Chaplin)

Smile, though your heart is aching


Smile, even though it’s breaking
When there are clouds in the sky
You’ll get by

If you smile through your fear and sorrow
Smile! and may be tomorrow
You’ll see the sun come shining thru
For you

Light up your face with gladness
Hide every trace of sadness
Although a tear
May be ever so near

That’s the time you must keep on trying
Smile! what’s the use of crying?
You’ll find that life is still worthwhile
If you just smile

Último Discurso – O Grande Ditador

Autor: Charles Chaplin

Sinto muito, mas não pretendo ser um imperador. Não é esse o meu ofício. Não pretendo governar ou conquistar quem quer que seja. Gostaria de ajudar – se possível – judeus, o gentio … negros … brancos.

Todos nós desejamos ajudar uns aos outros. Os seres humanos são assim. Desejamos viver para a felicidade do próximo – não para o seu infortúnio. Por que havemos de odiar ou desprezar uns aos outros? Neste mundo há espaço para todos. A terra, que é boa e rica, pode prover todas as nossas necessidades.

O caminho da vida pode ser o da liberdade e da beleza, porém nos extraviamos. A cobiça envenenou a alma do homem … levantou no mundo as muralhas do ódio … e tem-nos feito marchar a passo de ganso para a miséria e os morticínios. Criamos a época da velocidade, mas nos sentimos enclausurados dentro dela. A máquina, que produz abundância, tem-nos deixado em penúria. Nossos conhecimentos fizeram-nos céticos; nossa inteligência, emperdenidos e cruéis. Pensamos em demasia e sentimos bem pouco. Mais do que máquinas, precisamos de humanidade. Mais do que de inteligência, precisamos de afeição e doçura. Sem essas duas virtudes, a vida será de violência e tudo será perdido.

A aviação e o rádio aproximaram-se muito mais. A próxima natureza dessas coisas é um apelo eloqüente à bondade do homem … um apelo à fraternidade universal … à união de todos nós. Neste mesmo instante a minha voz chega a milhões de pessoas pelo mundo afora … milhões de desesperados, homens, mulheres, criancinhas … vítimas de um sistema que tortura seres humanos e encarcera inocentes. Aos que me podem ouvir eu digo: “Não desespereis!” A desgraça que tem caído sobre nós não é mais do que o produto da cobiça em agonia … da amargura de homens que temem o avanço do progresso humano. Os homens que odeiam desaparecerão, os ditadores sucumbem e o poder que do povo arrebataram há de retornar ao povo. E assim, enquanto morrem os homens, a liberdade nunca perecerá.

Soldados! Não vos entregueis a esses brutais … que vos desprezam … que vos escravizam … que arregimentam as vossas vidas … que ditam os vossos atos, as vossas idéias e os vossos sentimentos! Que vos fazem marchar no mesmo passo, que vos submetem a uma alimentação regrada, que vos tratam como um gado humano e que vos utilizam como carne para canhão! Não sois máquina! Homens é que sois! E com o amor da humanidade em vossas almas! Não odieis! Só odeiam os que não se fazem amar … os que não se fazem amar e os inumanos.

Soldados! Não batalheis pela escravidão! lutai pela liberdade! No décimo sétimo capítulo de São Lucas é escrito que o Reino de Deus está dentro do homem – não de um só homem ou um grupo de homens, mas dos homens todos! Estás em vós! Vós, o povo, tendes o poder – o poder de criar máquinas. O poder de criar felicidade! Vós, o povo, tendes o poder de tornar esta vida livre e bela … de fazê-la uma aventura maravilhosa. Portanto – em nome da democracia – usemos desse poder, unamo-nos todos nós. Lutemos por um mundo novo … um mundo bom que a todos assegure o ensejo de trabalho, que dê futuro à mocidade e segurança à velhice.

É pela promessa de tais coisas que desalmados têm subido ao poder. Mas, só mistificam! Não cumprem o que prometem. Jamais o cumprirão! Os ditadores liberam-se, porém escravizam o povo. Lutemos agora para libertar o mundo, abater as fronteiras nacionais, dar fim à ganância, ao ódio e à prepotência. Lutemos por um mundo de razão, um mundo em que a ciência e o progresso conduzam à ventura de todos nós. Soldados, em nome da democracia, unamo-nos.
Hannah, estás me ouvindo? Onde te encontres, levanta os olhos! Vês, Hannah? O sol vai rompendo as nuvens que se dispersam! Estamos saindo da treva para a luz! Vamos entrando num mundo novo – um mundo melhor, em que os homens estarão acima da cobiça, do ódio e da brutalidade. Ergues os olhos, Hannah! A alma do homem ganhou asas e afinal começa a voar. Voa para o arco-íris, para a luz da esperança. Ergue os olhos, Hannah! Ergue os olhos!

 

A Flor do Recanto!

Também através do Recanto das Letras trago uma flor, chamada Rosa Pena!

Falar de Rosa não será fácil, visto que ela é um misto de mito e verdade. Um ser que tem a capacidade de fazer com que olhemos para dentro de nós mesmos sem aquela hipocrisia estabelecida no mundo contemporâneo. Suas crônicas, são fragmentos das nossas vivências diárias; suas poesias são o desabafo da nossa alma órfã e carente; sua prosa, o bate-papo interno que teimamos em adiar para o dia seguinte. Mas Rosa é também flor de amor, emoção em flor, é bossa nova eternizada, é o blues reinventado, a vida renovada. Poderia ficar aqui horas, expressando meu modo de vê-la e senti-la, mas penso que seria como falar daquela sobremesa que dá água na boca e não lhes dá a chance de saborear a danada. Seria puro egoísmo, por isso venho dividir com vocês esse tesouro da literatura brasileira.

$1,99

Rosa Pena

Talvez as palavras,
já nem existam mais,
ou foram demais.
Hoje piso em ovos,
nem mais surgem poemas novos.
Já me submeti,
na nobreza ser o escravo,
no real ser o centavo.
No $1,99
sou aquele trocado ignorado.
Na cotação
meu coração virou dólar.
Já foi ouro.
Passado!
Tempos de euro!

2005

Rosa Pena
Publicado no Recanto das Letras em 22/05/2005






Ausência de lágrimas

Rosa Pena


Hoje acordei pensando que cada noite deveria ser duas noites. Não quero ser duas pessoas… Quero o tempo de duas noites.Sinto que sou amante de “Macbeth”. Foi ele quem assassinou o sono? Sou prima-irmã do Souza Cruz… Não sei quem inventou o cigarro, então vai ele mesmo.

Acho que devia ter nascido lésbica, apesar de que não ia segurar o preconceito dos heteros, que são de dois tipos: os que te odeiam pela frente e os que te odeiam pelas costas. E também adoro homem, sexualmente falando.

Acho que estou sofrendo um “desequilíbrio químico, um curto-circuito das minhas combinações nervosas”. Porque a única coisa que sei, neste exato momento, é que… as noites são minhas companheiras; o cigarro é meu amigo do peito (amigo traidor, mas só vou descobrir depois que estiver ferrada); as mulheres são as únicas que estão conseguindo me ouvir.

Sinto meu coração vazio de fantasias. Não tenho por quem sonhar.Parei de chorar em filmes românticos, e Djavan já não me emociona. Quero sentir pena da Maria, em Esperança, e ficar arrasada com amores impossíveis. Preciso de um segredo.

Nunca rifaria meu coração, como aqui na net já li… Mas o alugo… Sim, a um homem que me permita amá-lo. Nada exijo do meu inquilino. Apenas peço a ele a permissão de usá-lo como meu muso inspirador. E de vez em quando uma palavra de afeto.

Essa palavra que me daria o direito de sonhar com o impossível que seja, mas preencheria este vazio absurdo que estou sentindo.Tá doendo, a ausência de lágrimas.

2001Livro/ Com Licença da Palavra.
Rosa Pena
Publicado no Recanto das Letras em 10/05/2005

OI

Sem o açúcar no café,
sem o sal na refeição,
sem sabor fica a fartura.

Sem o oi de cada dia
a vida vira tortura,
regada de solidão.


10 de março de 2005
Rosa Pena

Publicado no Recanto das Letras em 10/03/2005


Mais Rosa Pena para você: http://www.rosapena.recantodasletras.com.br/

A Bruxinha Aprendiz

Olha só o conto da bruxinha que falei para vocês. E nem precisa dizer que me sinto a própria! Agradeço à Najah por esse momento de inspiração.

Aquela moça jamais esqueceu dos momentos que passara na floresta, perdida e depois de encontrada, embalada num manto de amor, mistério e magia. Após reencontrar seus amigos, retornara para a sua cidade, um lugar estranho, de pessoas estranhas, um ambiente hostil e frio, uma atmosfera que em nada combinava com a sensação de tranquilidade e paz vivida momentos antes. O nome da cidade era “Porto Solidão”. Tinha esse nome por ser um desses lugares aonde as pessoas se refugiavam de tudo, do mundo, dos outros e principalmente, de si mesmas. Até o sol ficava constrangido em aparecer, tamanha era a hostilidade. Os moradores fechavam portas e janelas para a sua luz e não lhe restava outra alternativa, a não ser esconder-se por entre as nuvens, que por sua vez, disfarçavam-se em forma de estranhas imagens no céu.

Mas o sentimento de paz que a moça experimentara, contrastava-se com a realidade vivida naquele lugar. Foi então que antes de dormir, ela pediu à Mãe Lua que lhe mostrasse uma forma de mudar tudo aquilo. ela queria cores, flores, arco-íris, música, vento…vida! Em sonho, contaram-lhe que no bosque da cidade vizinha, havia uma feiticeira que poderia ajudá-la em seu propósito. Na manhã seguinte, ela foi ao tal bosque. Procurou, procurou… e nada encontrou. Ao fim do dia, já cansada, adormeceu e ao acordar, percebera que ao seu lado havia uma cesta com flores de todas as cores e aromas. Sem nada entender, ela pegou a cesta e ficou alí, a admirar a beleza das flores. De leve, uma voz ecoou em seus ouvidos.

– Eis o que procura, criança! Vai e leva contigo o cheiro da paz e não esqueça de distribuir aos mais necessitados e carentes.Você saberá fazer a escolha certa. Em tuas mãos entrego o segredo da felicidade! Agora, segue o teu caminho e vai ao encontro dos aflitos. E o silêncio pairou no ar.

Intrigada com o que ouvira, a moça seguiu o seu caminho de volta. Nas mãos, uma cesta de flores, na cabeça… muitas interrogações e no coração…um enorme desejo de acertar. Durante o percurso, ela foi pensando no que faria, a quem ajudaria e como o faria. E ao chegar à cidade, percebeu que algo estranho havia acontecido. As flores haviam secado, como se uma energia muito negativa e pesada houvesse sugado toda a vida que nelas existia. Percebeu ainda algumas pessoas na rua, mas que não conversavam entre si. Viu um casal que brigava em público, acusando-se mutuamente de suas frustações e falta de perspectivas futuras; um velho, que não parava de reclamar das oportunidades perdidas; mais adiante, seus olhos fitaram um jovem que de tanto desgosto, mergulhava em depressão profunda e desistira de viver… queria apenas morrer; havia também uma mulher que vagava pelas ruas da cidade, à procura de um sonho perdido; nas calçadas, garrafas vazias denunciavam que os últimos goles embreagaram o desespero dos desiludidos.

E num ato de desespero e descrença, ela parou e chorou, por todas as vezes que se mostrou indiferente à dor e ao sofrimento dos que lhe foram queridos; pelas vezes que não revelou seu amor por orgulho ou por receio; pela piada que perdeu; pelo riso que negou; pela mão que não estendeu; pelo ombro que não ofertou; pelo verbo que calou; pelo grito que sufocou; chorou pelo sentimento de impotência diante do caos; pela oportunidade perdida; pela pressa de passar pela vida; chorou pela agonia da dor; pela flor que não vingou… E chorou…e soluçou…e tanto chorou que o casal que brigava parou porque não mais havia platéia para o seu show; o velho esqueceu o que lamentou e, com um lenço envelhecido pelo tempo, suas lágrimas enchugou; o moço que queria morrer, resolveu consolá-la; a mulher ofereceu seu colo para deitar. E tantas foram as lágrimas derramadas, que a lua, de tristeza, se escondeu, as nuvens se fecharam, um vento forte apareceu, e até o céu chorou. E todos juntos correram para abrigar-se do temporal, e choveu por toda a noite. A fúria do vento despetalou as rosas que se misturaram na poeira levantada, e que depois virou terra molhada. E o dia amanheceu! E, como num passe de mágica, o sol se abriu, o arco-íris surgiu e todos saíram de casa para ver o jardim florescido e adulbado com as lágrimas da moça chorosa, que plantou sementes de amor na terra árida do Porto Solidão.

By Sandra Mara
Aug, 26/2005 – 12:33am

Inspirado no Conto “A Bruxa” by (Najah ÐL®).

A BRUXA

Sabe, tenho tido a feliz oportunidade de ler muitas preciosidades por essas paragens virtuais e gostaria de dividir com vocês esse momento de pura ternura, expresso no conto dessa escritora, que nem conheço pessoalmente, mas que sabe como tocar a alma da gente de uma forma muito especial. Foi esse conto que me inspirou para escrever o conto da Bruxinha, que também está aqui no blog. Espero que vocês gostem, tanto quanto eu! Boa viagem ao mundo da fantasia e do sonho.

Vocês podem conhecer um pouco mais do trabalho da Najah no seguinte endereço: http://www.recantodasletras.com.br/autor.php?id=458


Beijocas, Sandra.

A Bruxa

(Najah ÐL®)

Todo mundo conhece a Bruxa. Ela mora num cantinho da floresta. Dizem que sua casa, nos dias de tempestade, costuma atrair todos os raios para si. Acho que é seu jeito de salvar as árvores para que não queimem e morram e a contrapartida da Mãe Natureza é lhe aumentar os poderes.Outro dia, ela estava apanhando algumas folhas para fazer uma infusão e encontrou uma moça desfalecida no meio do mato. Ajeitou a moça nos seus braços e começou a conversar com ela. Uma conversa estranha, de bruxa pra desmaiada:

-Vem aqui, filhinha, volta os teus olhos para o claro.As nuvens se abriram e deixaram passar um raio de sol.

– Ouve a canção, filhinha, abre teus ouvidos para as notas.Um vento brando começou um sussurro nas folhagens.

– Deixe o sangue correr nas veias, filhinha, ele está com pressa.Umas gotas de chuva começaram a cair lentamente.

– Abra a porta do seu coração, filhinha, estão batendo lá fora.

Um trovão se fez ouvir, suave, longínquo.E mais outro, mais outro, mais outro, até toda a floresta acordar.As folhas reluziram de limpas, as flores se abriram por um instante, a erva daninha se acalmou, a terra, abençoada terra, perfumou a tudo com seu cheiro de molhada, os bichinhos saíram pra brincar e o céu todo encantado, se abriu no seu azul mais lindo e deixou o sol brincar também. E ele, fez o que sabe fazer, secou as folhas, calou o vento, abrigou os animais, e acariciou o rosto da moça.

Contam que a moça saiu da floresta e encontrou os que a estavam procurando. Já estavam sem esperanças de encontrá-la; uma moça sozinha e perdida por tantos dias… Quando perguntaram se estava ferida, disse que não, que estava se sentindo muito bem. Que não se lembrava direito do que tinha acontecido, nem de como havia se perdido do seu grupo, mas parece que tinha tropeçado e depois havia adormecido e sonhado um sonho bom.

– Com o que você sonhou? –

Sonhei que estava num lugar muito quieto, de paz, sentia que flutuava, mas alguém me puxava devagarinho para baixo. Depois o lugar todo ficou mais lindo, com música, perfume, pássaros e eu me senti feliz e protegida porque estava sendo embalada com muito amor, muita ternura… e acordei quando vi que estava nos braços de minha mãe…

Najah DL
Publicado no Recanto das Letras em 15/05/2005

MEU CORAÇÃO PEREGRINO

Pobre menino triste
Peregrinas por entre vales e mares
Buscas alento para tuas dores
E vais ao encontro das flores

Na tua ânsia louca de amar
Sai às ruas a procurar
Alguns versinhos
Que te ajudem a poetar

Ah! Lindo menino
Meu coração peregrino!
Não te escondas da Lua
Que ela sonha em um dia tua

Meu coração peregrino
Se vais ao encontro da noite
Ofereça-lhe uma serenata
Canta aquela canção do Vinícius
E desculpa-te pelas notas desafinadas

Ah! Menino atrevido
Finda a noite…Chega o dia…
Despede-te da Lua
E ao sol digas Bom dia!

Boston, 22 de maio de 2005 – 10:40pm

Sandra Mara
Publicado no Recanto das Letras em 22/05/2005

Meu Querido Diário…

escrita1

Ando com tantas saudades suas. Há algum tempo já não te dedico tempo algum. Perdoa. É que depois que entrei para esse tulmutuado mundo civilizado, fiquei meio relaxada com a vida, esquecendo que você foi meu fiel companheiro nas minhas descobertas e sonhos de adolescente. Tantos segredos compartilhamos, tantas lágrimas minhas você guardou, tantos “meu primeiro amor” você testemunhou. Do primeiro beijo à primeira vez, do nascer do botão ao desabrochar da flor, do amor ao desamor… Era sempre você quem estava lá. E de repente, assim tão de repente, um estranho silêncio passou a reinar entre nós. E tanta coisa aconteceu durante esse silêncio. Chegou uma tal dona racionalidade me apavorando e ridicularizando a nossa relação. Ainda não entendo porque permiti que ela interferisse entre nós de uma forma tão autoritária, afinal sempre fomos tão cúmplices, tão companheiros e num simples piscar de olhos, nos tornamos apenas lembranças de um tempo bom. Ainda bem que não nos tornamos íntimos estranhos  como acontece com a maioria dos casais que um dia trocaram tantas juras de amor. Do lado de cá, tudo é tão frio. Sentimentos foram deturpados, valores invertidos, virtudes esquecidas. Saber virou sinônimo de poder; poder virou arma de opressão; silêncio virou lei. E Justiça virou ilusão. É tudo tão confuso, tão sem nexo, tão diferente daquilo que um dia sonhamos. Os sonhos que guardei nas suas páginas foram se diluíndo na poeira de desencanto.  

 

          Mergulho em suas páginas e vejo que algumas estão ainda em branco, talvez esperando a minha volta. E voltei meu querido amigo. Mas voltei modificada, trago comigo algumas marcas, cicatrizes das ilusões desfeitas. Por aqui, andam muitos letrados. Alguns aqui chegarão e procurarão alguma expressão de racionalidade ou mesmo utilidade literária nessas linhas. Eles sairão da mesma forma que chegaram. Silenciosos e desencantados porque não obtiveram lucro com o produto. Essas letras não produzem eco, não chamam coro, não fazem alarde. Elas apenas choram a saudade de um tempo que se perdeu no caminho entre o sonhar e o crescer. Outros, chegarão e de alguma forma, nelas se reconhecerão. Esses, farão um barulhinho tão bom, que ecoará aqui dentro do meu coração. Esses não farão perguntas, não tentarão encontrar razões. A emoção é seu guia, por isso nos entendemos entre silêncios e ecos solitários. Aos olhos desses serei princesa, ao passo que aos olhos daqueles, serei a eterna e rebelde plebéia que se recusa a contribuir para o progresso social. Minha emoção não oferece lucro aos cofres da razão. Mas aos seus olhos meu amigo, serei eu sempre a mesma menina, mulher, plebéia ou princesa, diva ou meretriz. Serei tantas, e todas habitarão em uma só alma, àquela que suas páginas preservaram. 

          Os caminhos. Ah, os caminhos! Por vezes tão tumultuados e tão nebulosos. Queria tanto saber, em que curva do caminho permiti que adulterassem meus sonhos, que me tomassem a fantasia, que me aprisionassem as esperanças. Teria sido lá, naquele momento em que permiti que me carimbassem um tal número que me rotularia “Cidadã”? Acho que foi alí sim. De lá pra cá, meu status passou a ser diretamente ligado aos cifrões e demais rótulos instituídos. Fala pra mim, meu amigo querido. Seria você capaz de me apontar o instante em que eu deixei de ser emoção, pra me travestir de razão? E em nome de uma tal coerência, passivamente assisti a demolição dos sonhos daquela menina que ainda marejava os olhos diante do nascer de cada novo dia. Conta pra mim, vai. Talvez assim, eu possa fazer o caminho de volta e tentar reencontrar o rastro do sonho, a crença no ser humano, na amizade, no amor. Quem sabe lá, naquela curva do caminho, reencontrarei a inocência da minha menina, a irreverência daquela moleca que você conheceu, a sensatez da mulher que um dia sonhei ser, mas acima de tudo, a alma do ser que ainda insiste em renascer dentro de mim.

          Apenas me mostra o caminho meu querido amigo. 

          … Eu preciso tanto voltar lá. 

 

 

 

… E O PIOR É QUE A GENTE SE CONFORMA!

Parafraseando Marina Colasanti.

Há algum tempo, li um texto que me fez parar e pensar na nossa incapacidade para lutar por aquilo considerado necessário, certo, justo ou ético. Um texto da escritora Marina Colasanti, onde a mesma afirmava: “Eu sei, mas não devia…”. Hoje, parafraseando respeitosamente a autora, venho prolongar essa discussão e aqui eu te digo minha professora: Como você está certa! … E o pior é que a gente ainda se conforma!

A gente se conforma a pagar juros altos no cheque especial porque as nossas despesas superaram o orçamento doméstico; E para pagar o cheque especial, a gente trabalha horas a mais, ou se possível, faz um bico aqui, outro alí. E, no corre-corre para pagar as contas, esquece de viver;Anda com os vidros do carro fechados e as portas travadas porque a violência urbana tornou-se insustentável e, porque é mais fácil travar as portas e janelas do que travar uma briga pela questão da Segurança Pública;Assim, a gente se conforma com a lembrança da brisa do mar e daquele cheiro de manhã de verão, que assistimos da janela, enquanto ainda não nos roubaram a magia do olhar;

A gente se conforma em olhar a lista dos canditados e votar no “menos pior”, ou seja, “aquele que rouba mas faz”, sob a desculpa de que os “outros só roubam… não fazem nada”, anulando assim o nosso poder de cobrança de suas ações, delegando plenos poderes ao Sr…Dr.. Fulando de tal… porque a essa altura, a gente já se esqueceu o nome dele;Se o ensino público vai mal, a gente paga colégio privado para garantir o acesso do filho à Universidade, se possível, a pública;

Paga plano de saúde, mesmo correndo o risco de não ter corbetura completa, mas pelo menos… ter ao que recorrer em caso de emergência. E em caso de uma ampla reforma no sistema previdenciário e nas regulações trabalhistas, a gente já começa a pagar um plano de aposentadoria privada, para não sofrer humilhações na hora do recolhimento;

A gente se conforma em viver uma vida socialmente aceitável, enquanto sonha com a aquela paixão desenfreada da novela e se conforma em acreditar que amor verdadeiro é apenas coisa de novela, de contos de fadas e que a vida real é dura demais para se pensar em paixão. E acredita em achar que o melhor mesmo é deixar essa estória de paixão para os jovens. Afinal, eles ainda têm muito o que aprender, e ainda nem sofreram o bastante, ainda nem começaram a viver a vida. E aí a gente pensa: Deixa que a vida ensina!E nessa de achar que a vida ensina, a gente crer que os ensinamentos da vida são voltados para o sofrimento, que é a partir dele que se aprende e se cresce. A gente se conforma com a dor causada por esse tal sofrer, repetindo diversas vezes… “Ah! Não tem problema não! Dói agora mas depois passa, você vai ver”. E assim, a dor vai se tornando companheira cotidiana, e a gente acredita que a vida é assim mesmo, que sem dor, não há crescimento!

Se o relacionamento vai mal, a gente vira a cara para o outro e diz que quer um tempo para pensar e refletir. E dá um tempo sem saber o que fazer daquele tempo… porque “dar um tempo” é mais fácil do que enfrentar a situação de frente e porque, mesmo vivendo lado a lado durante anos, olhar no olho e falar a verdade, ainda é um desafio. Falar daquilo que está machucando não é fácil… Afinal a gente foi treinado para se defender das armadilhas da vida e do amor, não para expor fragilidades;

A gente se conforma em chorar escondido porque alguém, algum dia falou que chorar em público é manifestação de fraqueza, de insegurança. E a gente engole o choro, sufoca o pranto e diz que aquela lágrima que teima em se mostrar é apenas um cisco que caiu no olho ou fala que toda vez que corta cebola é a mesma coisa… muitas lágrimas.

Se encontra um velho conhecido na rua, a gente se conforma com um aperto de mãos ou no máximo, um beijinho no rosto, enquanto queria, na verdade era um abraço para sufocar as tensões do dia… e ainda responde sorrindo que vai tudo muito bem, obrigada! E vai embora sem aquele abraço tão desejado.

E se quer cantar mas não sabe a melodia, se conforma em aumentar o volume do rádio para que ninguém tenha que ouvir aquela voz de trovão… E pensa… “Que Pena! Eu adoraria saber cantar assim…”. E de tanto reprimir e sufocar o desejo, a gente acaba esquecendo a letra e a melodia daquela música tão especial.

Os sonhos…. Ah! A gente esquece que sonhar é um ato inerente ao ser humano e se conforma em dizer que no tempo de criança, também sonhava…mas agora não tem mais tempo para essas coisas… E feliz daquele que antes de deitar esculta alguém dizer: “Tenha uma boa noite, durma bem e tenha bons sonhos”;

E na ânsia de sonhar, a gente se conforma em ir dormir agarrando aquele enorme urso de pelúcia, quando na verdade, só queria o colo da mãe. Queria deitar no seu colo e falar bobagens, ou mesmo não falar nada… só ficar em silêncio… até adormecer e sonhar. Sonhar que se recusa a engrossar esse coro conformista, que nega o desejo, a vontade, o sonho… E a gente sonha… E sonha… porque o sonho foi a única coisa que restou. Porque o sonho se recusou a se conformar.

Boston, April 29, 2005 – 07:46pm